segunda-feira, 8 de junho de 2009





Tecnologias educacionais: presenças ausentes na escola

Lucí Hildenbrand

Cada vez mais aceleram-se as inovações no campo da tecnologia e, em decorrência, as reflexões, aplicações e experimentações na área pedagógica.
Sabemos que em educação tudo pode ser tomado como tecnologia e, via de regra, tendemos a nos apropriar dela do mesmo modo que vemos outros fazerem. Se os nossos olhos vêem lâminas de retroprojeção serem exemplarmente empregadas para apresentar conteúdos que poderiam ser registrados no quadro de giz, passamos a fazê-lo na mesma dimensão. Às vezes, até chegamos a ouvir indagações intrigantes que dizem que quando dois meios são capazes de cumprir os mesmos papéis pedagógicos, é natural que o mais moderno substitua o outro.
Os especialistas que se dedicam ao estudo dos meios não concordam com essa abordagem. Entendem que cada meio é único, quando considerados seus limites e possibilidades. O nosso pequeno conhecimento em torno das características e particularidades das diversas tecnologias é que nos faz lidar com elas restritivamente.
Assim, usamos, por exemplo, o filme gravado em vídeo como se fosse o próprio filme; a rádio gravada em áudio como se fosse a rádio; a Internet como se fosse um espaço privilegiado para difusão de mensagens impressas quando é um espaço altamente apropriado para difusão de mensagens cinético-audiovisuais. Assim, a seleção das tecnologias educacionais ou a incorporação delas na prática de ensino não é uma ação desatrelada dos saberes docentes em torno de seus códigos e linguagens, de suas características e particularidades, de suas possibilidades e limitações.
As tecnologias educacionais precisam ser melhor conhecidas pelos professores para que – dotados de conhecimentos, atitudes, práticas e posturas compatíveis – possam assegurar a efetiva utilização delas em seus afazeres profissionais.
Inegavelmente, a profissão do professor o desafia a incorporar meios e meios de comunicação e educação no trabalho pedagógico, pois a tecnologia já é presença efetiva na escola e está introjetada na cultura de nossos alunos. Sendo assim, a relutância em apropriar-se ou buscar perceber que há alternativa(s) mais apropriada(s) para exercer determinada(s) função(ões) no ensino-aprendizagem contribui para o estabelecimento de um “fosso” entre a escola e a realidade. Estando apartada do meio em que está inserida, é natural que seja percebida como descontextualizada e que proceda a abordagem dos conteúdos de modo fragmentado. Os objetos do mundo social não são nem estão sujeitos aos múltiplos olhares, dizeres e pensares da escola. É como se o mundo real, revelando-se tal qual um caleidoscópio, fosse observado, em cada disciplina, segundo uma única e indissociável imagem. Imagem que, em verdade, sendo múltipla e complexa; carece ser observada e analisada em distintos aspectos.
Por conta dessa contemplação distorcida – na medida que fragmentada e descontextualizada –, a escola passa a ser percebida como obsoleta, relutante à renovação e à inovação pedagógica, apartada da vida cotidiana, favorecedora do alheamento tecnológico no qual vivemos e frágil promotora da cultura latejante do país. Hoje nos deparamos com a necessidade de compreender as tecnologias de tal forma que possamos incorporá-las com propriedade à nossa práxis; é preciso que estejamos abertos à recepção dos meios e materiais tecnológicos na escola sem a adoção de simplismos.
Usar tecnologia não é mero clicar de botões, de trazer fita de áudio ou vídeo para ser assistida, enquanto o docente realiza outra atividade de maior importância. Usar tecnologia é muito mais do que isso. Incorporar a tecnologia na escola dentro dos pressupostos das teorias que solicitam, dos agentes comunicativos, interação e interatividade e construção de conhecimentos – ajustada ao nível e a realidade de cada aluno, de modo a poder contribuir para o processo de aprendizagem coletiva e cooperativa – requer, no mínimo, tempo de estudo e desejo de aprender. Sem essas duas condições primeiras, as tecnologias até podem estar presentes na escola, porém não estarão inseridas em abordagem que as assumam como elementos mediadores da compreensão da realidade que vivemos.
Buscar nossa alfabetização tecnológica é, por conseguinte, um fazer inadiável: sabemos que as tecnologias educacionais, designando as diferentes categorias de meios – concretos, impressos, auditivos, audiovisuais e informáticos – não são elementos constantes na maioria de nossas salas de aula. Em geral, quando se fazem presentes, são exploradas além dos limites de suas possibilidades – exemplo marcante pode ser trazido pela lembrança do uso abusivo do retroprojetor, do quadro de escrever, de impressos. Não podemos mais continuar nos aventurando por trilhas que levem à seleção, à utilização ou que dispensem a avaliação da prática pedagógica; precisamos saber se os percursos que realizamos são, de fato, os caminhos mais próprios para se chegar ao(s) fim(ns) instrucional(is) e/ou educacional(is) pretendido(s). Se seleção, utilização e/ou avaliação das tecnologias interferem na comunicação escolar, acarretando insatisfações e prejuízos aos atores do processo de ensinar e de aprender, é preciso viabilizar saída(s).
Segundo Fagundes (2004), o percurso da escola, para adentrar neste mundo conectado e permeado por tecnologias, passa, necessariamente, “pela curiosidade, pelo intercâmbio de idéias e pela cooperação mútua entre todos os que se encontram tes envolvidos no processo.
matéria incluída em: 04/08/2004-->

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